domingo, 20 de abril de 2008

Saudade


Saudade nem precisava de dia, todo dia sentimos saudades de alguém ou alguma coisa e até de nós mesmos. Antes de fazer esse post dei uma navegada na net e além da definição do Aurélio, li em algum lugar que saudade não tinha cor, cheiro etc.

Discordo totalmente.

Nada tão repleto dos nossos cinco sentidos do que a saudade.

Saudade segundo o Aurélio é: “Substantivo feminino - Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia.”

Gostei! Nada mais substantivo do que a saudade ser feminino.

Melhor dizendo, acho tão próprio do gênero feminino sentir saudade e gosto de senti-la, até porque não associo à tristeza propriamente dita e sim a uma doce melancolia.

Quando a saudade aperta e por conseqüência as lembranças vão chegando de mansinho, sempre tenho uma vontade esquisita.

Sempre penso em como seria bom voltar a um dia no tempo com determinada pessoa sabendo o que sei agora. Ter perdoado o primeiro amor que por inexperiência, assim como eu, ainda não sabia amar, dormir com a sensação de paz inigualável no peito dele somente mais uma vez. Pescar da infância o melhor dia e vivê-lo de novo.

Um dia para cada pessoa que me foi tão cara, pessoas que foram embora, outras que mandei, algumas que gostaria de ter conhecido melhor. Um único dia com cada uma delas, para aproveitar com a intensidade do sabor das coisas findas/muito mais que lindas/estas ficarão...como escreveu o poeta e me atrevo a dizer: ficaram.


"e a saudade que eu tinha de gente fazia com que eu rolasse horas na areia do sol abrasador, abraçando meu próprio corpo, inventando um prazer que eu precisava para me sentir vivendo talvez, porque eu não tinha medos nem preocupações nem mágoas nem nada concreto nem expectativas, as minhas células amorteciam, eu sentia que ia acabar virando uma palmeira, os meus pés agora parecem raízes, mas ainda tenho mãos, então eu rolava na areia quente enquanto meus dentes faziam marcas fundas roxas nos meus braços, nas minhas pernas e de repente todas as minhas células explodiam em vida, exatamente isso, em vida, eu tinha dentro de mim todo aquele sol todo aquele mar tudo aquilo que eu conhecera antes, que conheceria depois, se não estivesse aqui. Eu ficava amplo, na areia, abraçado a mim mesmo”

Caio Fernando Abreu – Trecho (In O Inventário do Ir-remediável)



“Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida." Clarice Lispector



Ah, não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram....

Saudadeeeeee..