quarta-feira, 20 de maio de 2009

O grito


Acordou com um grito. Pensou que fosse sonho e tentou voltar a dormir. Mas não conseguiu. Tentou entender o que havia acontecido e explicar àqueles que o ouviram. Foi em vão. O que lhe vinha à mente eram flashs sem sentido, impossível de se fazer qualquer associação.

Ainda assim, sentiu-se diferente. Resolveu fazer algo que normalmente não faria. E companhia àquela pessoa que apesar de recusar ajuda, precisava de atenção.

No dia seguinte, continuou percebendo as diferenças. Desistiu de procurar uma resposta para o ocorrido. Viveu e conviveu. Os dois são diferentes. Quando se vive, simplesmene existe, como uma planta ou um protozoário. Conviver é viver com. Saber que além de você existe outras formas de vida. E mais: interagir com elas sejam plantas, pessoas ou protozoários. O ideal é manter distância de plantas, pessoas, protozoários e outros animais nocivos. Esses são prejudiciais à saúde.Deu um abraço em um amigo que não via há tempos. Insistiu em se mostrar presente ao amigo em crise. Até tomou sorvete no fim da tarde com outro amigo.

Ele gostou dessas mudanças. Ficou bastante feliz. Conseguiu passar seu dia sem maiores preocupações, sem pensar no amanhã, vivendo o clichê de um dia de cada vez. Foi dormir.

Não houve gritos. Dessa vez o pesadelo foi bem nítido e não saiu da sua cabeça. Levantou um pouco decepcionado. Não dava para viver assim pra sempre, só de brisa e amigos.

O que nosso amigo não sabia é que depois daquele grito sua vida não seria mais a mesma. Lavou o rosto, trocou de roupa e saiu de casa. Simplista? E a novidade? Calçou o sapato que não vestia há tempos. E aquela calça que ganhou da namorada que não usava desde que terminaram. Até passou gel no cabelo.

Quando chegou ao escritório recebeu dois avisos. Um bom e um ruim. “Qual escolher?” Não teve chance, foram descobertos ao mesmo tempo. Ganhara um presente. Mas precisava fazer uma ligação nada agradável. “Eu não mereço isso?” É a vida mostrando que é assim que ela segue e que é assim que deve ser encarada: de frente. “Medo já chegam os de injeção, lagartixa e palhaço”, pensou.

Fazia duas horas que estava lá, em meio a protocolos e petições. Cotidiano? Em meio a uma enxurrada de e-mails burocráticos, descobre um convite. Programaço para o feriado. Convida um amigo que declina o passeio. Pensa um pouco e decide ir. Precisa começar a caminhar com as próprias pernas. Sorri com a idéia. Em poucos minutos volta a tensão habitual. E eis que um colega do trabalho (que ainda não é amigo) lhe faz um agrado. E ele sorri de novo. Depois que o colega (que estava se tornando amigo) sai da sai da sala ele ri mais um pouco. Agora é de si. E da sua ingenuidade em não observar as nuances do seu dia. Nem 8 nem 80. Chocolate meio amargo em bolo docinho. Estão ali, dividindo o mesmo espaço e proporcionando boas surpresas.

Esse conto/crônica é para todos que visitam o nosso blog. Para quem apenas lê, para os que comentam, para os que se perderam, para os que me encontraram. Digo nosso porque palavra é semente que podemos plantar em muitos corações. Que bom saber que aquilo que eu escrevo sirve de alento, distração, informação ou alienação para alguém. A todos vocês, muito obrigada.