quarta-feira, 27 de maio de 2009

Inquieto


Já me sentei e levantei várias vezes.
Busquei os lenços de papel. Peguei uma bebida. Respondi as mensagens de celular. Olhei as louças sujas, mas decidir não lavá-las. Só agora comecei a escrever. Sinto muito. Preciso levantar novamente. (...)

(...) Olhei mais uma vez o celular. Respondi mais mensagens. Fui ao quarto pegar casaco. Ajeitei um pano. Coloquei uma música e não gostei. Voltei a escrever. Tomo um gole da bebida. E mais outro. E não me entorpeço. Continuo procurando uma canção. Que seja capaz de me inspirar e acalentar essa ansiedade toda. E não encontro.

Apago a luz e fico a espera de uma idéia. Até que depois de outro gole ouço na vitrola um jazz. “Dance me to the End of Love”. Me imaginei nos anos 30 como algum personagem de um escritor americano, bebendo um vinho barato, em frente a máquina de escrever prestes a criar o melhor texto de sua vida. Capaz de pagar suas dívidas e trazer consigo um grande amor. Nada mais marginal que isso, nem nada mais solitário.

E cá estou eu. Sem grandes pretensões quanto a essa produção. A bebida também está aqui. Mas não é um vinho barato. E a minha “máquina de escrever”, reluzente na sala escura, libera a trilha que só eu sou capaz de ouvir.

Quem seria capaz de escrever um personagem como eu? Tão cheia de ângulos? O avesso do avesso? Tão inquieto quanto eu.