quarta-feira, 12 de maio de 2010

CIUME


Fiquei desconsertada. E uma longa seqüência de perguntas endereçadas a mim, acuada no canto da mesa, tantas e sobre tantos temas, quando meu pensamento era um só. Taquicardia. E tome tremedeira - é o frio. Depois passou.

Pra seu governo, eu não me importo. Faça o que quiser, quando, onde, se, como, com quem preferir. Não ligo. A vida é boa e não oscila de acordo com a sua, seu passado, seu presente. Não existe nosso futuro, meu bem. Não tô nem aí. Fica com aquelazinha do cabelo Iemanjá - bate no meu queixo, veste roupa da coleção passada, é tão fofinha… Nem olho, nem tchum.

‘Esquento os lençóis com secador de cabelo, acendo a vela amarela de citronela, ligo um DVD de amor e não sinto falta de nada. Nada. Talvez chore na cena da despedida. '

Mas ninguém jamais vai saber

Depois daquele dia, veio outro, e mais outro, como todos que já vivi sem você. Alguém morreu? Hoje foi tão bom, sabia? Passei pela fila da vacina de rubéola segurando o tríceps, gemendo ai, fazendo medo nas pessoas, sendo que nem tinha sentido a agulha. Depois ri de boba, almocei meia garrafa e lanchei pipoca doce. Pedi um café, mas só tinha cerveja. Estava gelada de doer os dentes, como a noite, como eu e o vento, arrepiando meu cabelo preto. E tinha esse rapaz na mesa ao lado de olho no meu cruzar de pernas, cruzando meu olhar, olhando para mim. Bem ajeitado, o rapaz. Pedi mais uma cerveja e gastei três segundos - ou teria sido meia hora? - torcendo pra você passar na calçada. E me ver.
E daí que a noite está fria e a cama, vazia? Tomo uma novela de banho escaldante até embaçar os vidros de perfume. Com a ponta do dedo indicador, escrevo o meu nome bem grande no espelho. Embaixo, uma flor. Visto o pijama que minha mãe trouxe de Teresópolis: camisa pra dentro da calça, calça pra dentro da meia. Esquento os lençóis com secador de cabelo, acendo a vela amarela de citronela, ligo um DVD de amor e não sinto falta de nada. Nada. Talvez chore na cena da despedida.

Não preciso de você, não quero te ver e espero que você não me veja. Se alguém perguntar, diz que não sabe de mim, que sumi, que me arrependi, que endoidei, que não quero te ver nem pintado de roxo. E olha que roxo é das minhas melhores cores.

Sei muito bem viver sem você. Aprendi, decorei lições, pratiquei e, adivinha, atingi a perfeição. Hoje, tiro de letra. Vacinada, sei estacionar de ré, tenho carteira assinada, troco pneu, abro vidro de palmito, adoro um saca-rolha, conserto computador, carrego peso, arrasto móvel, bato martelo e tenho maleta de ferramentas própria. Sou auto-suficiente, me auto-estimo, me autofaço cafuné, me autoponho pra dormir. Complica quando sonho.

(É só ciúme. Desculpe.)